quarta-feira, 31 de agosto de 2011

OLÍMPIA, SANTUÁRIO DE DEUSES E SEMIDEUSES por Francisco Souto Neto


OLÍMPIA, SANTUÁRIO DE DEUSES E SEMIDEUSES
por Francisco Souto Neto


Jornal do Centro Cívico Ano 3 – Agosto 2004 – Nº 19
Diretor-presidente: José Gil de Almeida

Página 13:


Capa:




 OLÍMPIA, SANTUÁRIO DE DEUSES E SEMIDEUSES
Francisco Souto Neto


Num cruzeiro de uma semana pelos mares Adriático, Jônico e Egeu, a bordo do navio italiano Costa Victoria, parti de Veneza com meu companheiro de viagem Rubens Faria Gonçalves, e no segundo dia de navegação atracávamos no porto de Katakolon. Ocupávamos a suíte nº 11108, no 11º deck do gigantesco navio.
O telefone-despertador acordou-nos às seis horas de um 2 de setembro – por coincidência, meu aniversário. Mas naquela manhã nem me lembrei do detalhe da data, pois estava muito ocupado com a perspectiva do dia que teria em frente. Olhei pela janela e vi a costa do Peloponeso. Após o café da manhã, desembarcamos e tomamos o ônibus da excursão que, em meia hora, nos levou a Olímpia, onde realizaram-se as primeiras olimpíadas da Antiguidade.

Os primeiros jogos olímpicos

Olímpia era um centro religioso e os primeiros jogos olímpicos começaram a ser ali celebrados em honra de Zeus, o pai de todos os deuses da Grécia. O estádio comportava multidões, talvez de até 50 mil pessoas, que assistiam às disputas entre atletas vindos de todo o extenso mundo grego que abrangia desde a península itálica até à Índia, incluindo-se o Oriente Médio e o norte da África.
Naquele tempo os atletas competiam nus, porque os gregos cultuavam o corpo humano. As mulheres eram proibidas de assistir aos jogos, e aquela que o fizesse seria condenada à morte.
Os atletas não podiam trapacear. Se um deles fosse pego pelos fiscais, passaria pela vergonha de ser açoitado em público, e ainda teria que pagar pesadas multas. O vencedor ficava famoso e ganhava o status de semideus.

Rubens Gonçalves no corredor por onde entravam correndo
os atletas que iriam participar dos jogos olímpicos.

Souto Neto filmando o estádio olímpico
conservado como era desde o ano 400 a.C.

O estádio, com quase 200 metros de comprimento, está perfeitamente identificável, com sua tribuna de 2400 anos ainda intacta. Os atletas ingressavam naquela estádio através de um corredor em forma de túnel, do qual subsistem apenas um arco e as paredes. Dei uma corrida por aquele caminho, imaginando como se sentiriam os atletas que por ali passavam em tempos remotos...

O Templo de Zeus

Edificado sobre um imenso embasamento, o Templo de Zeus era um dos mais famosos santuários do mundo grego. A estátua daquele que era o deus mais importante do panteão helênico, e que foi uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, já não existe, mas sabe-se que era da autoria do escultor Fídias, mais ou menos do ano 400 a.C., e estava sentada num trono. Feita em marfim e ébano, enfeitada com ouro e pedras preciosas, teria... 15 metros de altura, o equivalente a um prédio de cinco andares. Fala-se que a estátua tinha o cenho franzido para atemorizar os visitantes porque, segundo se acreditava, quando Zeus franzia a fronte, o Olimpo tremia. Diz-se também que os gregos preocupavam-se com o fato de que a cabeça do deus estivesse quase tocando o teto do templo e temiam que, se um dia ele se levantasse, derrubaria o edifício.
E o templo realmente ruiu. Mas foi um terremoto que provocou o desastre. Tudo o que restou foi o piso da imensa construção. Uma inteira ala das suas altíssimas colunas atiradas ao solo pelo desastre sísmico, foi assim conservada para sempre, pois os gregos quiseram manter o registro daquele tipo de calamidade com o qual são obrigados a conviver há milênios.

Souto Neto nos fragmentos do que restou das
colunas de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.

Rubens Gonçalves sentado no piso do templo de Zeus. As
colunas estão como ficaram ao serem destruídas pelo terremoto.


O Museu Arqueológico

O museu de Olímpia é extraordinariamente rico. Dentre centenas de outros tesouros, como o friso do templo de Zeus, encontra-se ali a estátua original “Hermes com Dionísio menino”, que me surpreendeu por ser muito alta, talvez uns quatro metros, e também as do imperador Adriano e Antinuus.

"Hermes com Dionísio Menino", Museu de Olímpia.

Após deixarmos o recinto arqueológico, o ônibus parou um pouco na rua principal da moderna Olímpia para que as pessoas pudessem fazer compras. Rubens Gonçalves escolheu uma pequena e preciosa ânfora pintada à mão pelo artista conhecido no Peloponeso por “The Centaur”, com o tema “O Enigma da Esfinge”. Após comprar e mandar embrulhar, deu-me o pacote de presente. Fiquei surpreso por alguns instantes, sem entender, quando me lembrei de que aquele memorável dia passado em Olímpia, 2 de setembro, era meu aniversário.
Voltamos ao navio e seguimos para o próximo porto do nosso cruzeiro: Kusadasi, Turquia, no Continente Asiático, onde mais História nos aguardava.

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OBSERVAÇÃO: Este texto foi também publicado pela Folha do Batel de Agosto 2004, jornal da propriedade de Celina Suzy.

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